Um caramujo muito diferente. Assim é Barrigapé, que já começa a história querendo entender seu nome. Enquanto os outros caramujos levam a vida de sempre e ficam indignados com os desejos que a eles parecem estranhos, Barrigapé quer voar como a borboleta, cantar como o bem-te-vi, nadar como a tartaruga e entender a língua dos humanos. À sua maneira e respeitando sua natureza, ao contrário do que pensam os outros, ele consegue o que quer, inclusive estabelecer os próprios limites: convidado a governar os caramujos, ele recusa a proposta e se recolhe à sua casquinha para se dedicar à escrita de suas memórias.

Marcelo é um menino que passa a se chamar Marcéu porque, como na alma, deseja carregar no nome seu desejo de voar. Na convivência com o irmão mais velho, fala sobre voos e conta conversas com os pássaros, que muitas vezes anunciam surpresas da natureza. Num dia em que sozinho vai visitar os tios, o irmão mais velho assiste a uma longa e forte chuva, que vira enchente e leva embora a casa onde ele vivia com Marcéu, acabando com o que juntos os dois eram e tinham. Quando a tristeza cede espaço, as pequenas verdades, mesmo que imaginadas, oferecem caminhos de recomeço ao jovem.

Pela voz de um jambeiro, carinhosamente chamado de Eugênia em função de parte de seu nome científico (Eugenia malaccensis), os leitores são convidados a conhecer a história de uma família, especialmente de suas mulheres, e da construção de uma cidade. No centro da narrativa, estão Violeta, Rosa, Eugênia Flora e suas descendentes, com os vínculos familiares e afetivos que vão sendo construídos a partir delas. Por meio das experiências individuais de suas personagens, marcadas pela presença silenciosa da árvore Eugênia, o conto de um tempo, de um modo de viver, de amar e de lembrar é construído nesse sensível livro.