Às vezes, a Menina acompanhava a mãe em seu dia de trabalho. Foi em um desses dias que ela viu, em uma prateleira bem alta, uma coleção de livros, aparentemente nunca abertos. A Moça, dona da casa, professora, ganhara os livros do pai, e muitos outros presentes, que tentavam substituir a presença do homem. Chegou o dia em que a Moça se mudou da casa, levando consigo a coleção de livros, mas a curiosidade e o desejo de conhecer as palavras e de ler muitas histórias, despertados na Menina pela visão dos livros no alto, seguiram com a pequena por toda a vida.

Uma menina vive com duas irmãs, dois irmãos, seu pai e, tempos sim, tempos não, com sua mãe. Ela não sabe direito o que acontece quando os homens de branco levam sua mãe para um lugar que ela também desconhece. Entre silêncios, ausências e pequenas e dolorosas pistas, entremeados pelo aprendizado das letras na escola, a personagem tenta compreender a ausência da mãe, tanto a de quando ela é levada de casa, quanto a que pode ser sentida durante os muitos dias da mulher na cama, sem voz, sem palavras. O mergulho no espelho é uma narrativa sensível sobre questões temidas e muitas vezes tratadas como tabu.