Esperar e temer o lobisomem, ouvir seus uivos e tentar ver suas orelhas compridas, seu focinho de lobo e seus dentes pontudos já se tornaram programa certo nas sextas-feiras dessa família. A avó, agoniada, fica tentando fazer com que o galo cante mais cedo, para que o dia amanheça; a mãe acende uma vela, sem saber muito para quê; o pai, rindo de tudo, quer ir ao quintal e as crianças gritam e contam o que viram ou imaginaram ver. Em uma mistura de medo e diversão, os leitores são convidados a participar dessa rotineira aventura familiar, que só acaba com a chegada do sol, para começar novamente na outra sexta-feira...

Em uma imprevisível e maluca comunicação, à moda do telefone sem fio, a vontade do elefante de comer amendoim atravessa todo o zoológico, criando as mais inusitadas imagens entre os bichos. Macaco, girafa, camelo, foca, orangotango, onça e sagui fazem muita confusão, mas mantêm a rima e o ritmo do que acaba se tornando uma divertida e poética brincadeira, que só termina quando, inacreditavelmente, o tatu adivinha o que queria o elefante. As ilustrações ampliam o jogo poético, criando visualmente as esquisitices e confusões construídas pelas palavras.

Uma árvore pode ser mais que uma árvore. Talvez ela seja um palco vertical e longo para a convivência de muitos bichos e até mesmo o cenário de uma festa. Os leitores, convidados especiais dessa noite espetacular, são acolhidos logo na chegada e junto com os personagens – coruja, guaxinins, morcego, pássaros e outros pequenos habitantes da árvore –, nas viradas das páginas do livro, alcançam, aos poucos, a festa que se anuncia. A narrativa é feita exclusivamente com coloridas e delicadas ilustrações, que além de nos fazerem ouvir a música e sentir o frescor da ocasião, sugerem o ritmo da história contada.

O primeiro convite feito pelos pequenos poemas e pelas ilustrações de Que bicho está no verso? é, certamente, para a brincadeira de adivinhar, pelas características apresentadas, que bicho estará na próxima página ou, melhor dizendo, no verso da página. Feita essa primeira leitura, estimulante em função do caráter incomum das pistas oferecidas, torna-se outro o percurso proposto pelo livro, dessa vez guiado pela delicadeza de palavras e imagens, que vão além das adivinhas. Descobertos os bichos, os leitores passam a esmiuçar as palavras, ouvindo seu som e o ritmo que juntas impõem à leitura, criando novas possibilidades de poesia para cada um dos poemas.