Resenha - Um rio corre na lua
Resenhas catálogo | 26.09.2024
Última atualização 26.09.2024
Uma pequena cidade, real ou imaginária, é sempre uma amostra do que somos como sociedade, especialmente das relações que estabelecemos uns com os outros. Uma obra literária cria, com palavras, realidades singulares, mas comuns a muitas pessoas, uma vez que são os traços e sentimentos que partilhamos que nos permitem viver em grupo. Em uma esfera reduzida, mas ampliada em foco, podemos observar, a distância e suspensa no tempo, nossa condição humana. É isso que faz o romance Um rio corre na lua, de Ruy Espinheira Filho.
Em uma manhã pacata e comum na pequena Rio da Lua, D. Cinha vê na vidraça da janela de sua casa uma imagem que parece ser a de Nossa Senhora ou de uma santa, o que não fica explicitado no texto. Em pouco tempo, toda a cidade se rende ao acontecimento, que altera a vida de sua população e de municípios vizinhos. A adoração à imagem ou o questionamento quanto a sua existência reverbera em cada um dos moradores – o prefeito, o delegado, o padre, o pastor, o jornalista, o dono do cinema, a mulher da bola de cristal, a poeta, além das pessoas comuns –colocando suas características e modos de viva em foco, revelando e expondo sentimentos, medos, angústias e anseios da cidade.
“Se não há milagres e tudo é milagre, Ruy Espinheira Filho fez um pequeno milagre com este singelo romance. Na fronteira sempre móvel entre prosa e poesia, fez brotar um rio onde lirismo e contenção se cruzam e se mesclam — lá onde também memória e ficção perdem suas margens e o realismo ganha umas tintas de fantástico.”
Otto Wink, Jornal Rascunho
Em capítulos curtos e, em alguns casos, pitorescos, contemplamos a nós mesmos e aos nossos em uma leitura envolvente. Com um olhar aguçado e sensível, o autor desenha seus personagens, cada um com os próprios dramas e conflitos, desde os nomes. A aparição da imagem se apresenta como mote para um desfile da condição humana, cirurgicamente construído por Ruy Espinheira Filho.
Fabíola Farias
Graduada em Letras, mestre e doutora em Ciência da Informação pela UFMG, com pós-doutorado em Educação pela UFOPA. Dedica-se à pesquisa e a projetos sobre leitura, formação de leitores, bibliotecas, livros para crianças e jovens e valorização da cultura da infância.