Em seu primeiro livro, Juliano de Holanda usa o talento como compositor para elevar os poemas a sua vocação elementar: a oralidade. “A língua é uma lesma veloz”, entrega em um verso, e os textos se espalham no papel como uma sinfonia — não uma ópera, mas uma roda que ganha novos corpos e instrumentos a cada página virada. Outras armadilhas desejáveis percebe o que há de sensível no banal e assim dá vazão a um mundo que pode ser mais simples e conectado, como seres fantásticos — que somos — criando juntos um futuro possível. Este novo lugar não é impecável. Pelo contrário, segue cheio de arestas. Em Outras armadilhas desejáveis, as imperfeições são envolvidas pelas palavras e pelos afetos. É a bola de gude no apartamento de cima, o carro do ovo, a voz do piloto que pede para continuarmos sentados no avião, o barulho do amor quando quebra. Leitor de autores como Marco Polo, Lucila Nogueira e Philippe Wollney, Juliano Holanda encontrou seu ritmo em meio aos sons da cidade porque sabe, “o cão da palavra não se adestra”.