As palavras organizam nosso pensamento, materializam ideias, comunicam coisas e nomeiam sentimentos. Em tudo isso, elas também brincam com os próprios sentidos e sons, criando novas possibilidades para cada uma, individualmente e quando estão juntas. Nesse livro, as palavras, arranjadas em versos, contam com as instigantes ilustrações de Ionit Zilberman, que criam ainda mais sentidos para o poema de Luís Pimentel. Palavras guerreiras, companheiras, corajosas, que fazem chorar, que enchem barriga, que cantam e iluminam... Investidas de poesia, elas convidam os pequenos leitores a ver o mundo de maneira mais incomum.

Uma menina narra sua lembrança mais feliz de viagem, curiosamente feita dentro de uma casa, em Salvador. Acompanhando a avó, que vai visitar duas amigas bem velhinhas, a pequena embarca em uma viagem imaginária com as duas senhoras, que fazem da colcha de retalhos que tecem um objeto de memória e de fantasia. Depois de colocarem seus chapéus, tendo a menina como convidada, elas viajam pelo mar até chegar a Itaparica. Em seu trajeto, cantam, contam suas lembranças e acenam para os barcos que passam, além de se assustarem com um temporal que se anuncia. Essa aventura fica para sempre na memória da menina.

“Lá” pode ser apenas um lugar que não é o nosso, que indicamos quando alguém pergunta onde está ou onde fica algo. Mas pode também, como nos muitos convites que fazem João Anzanello Carrascoza e Ionit Zilberman, ser uma maneira de pensar o espaço em que não estamos e do qual muitas vezes não nos damos conta. É “lá” que podem estar as muitas coisas que perdemos ou que não encontramos, como chaves e guarda-chuvas desaparecidos, o sol durante a noite, a música ao final de sua execução, o tempo que passa e até mesmo os anos que ainda temos para viver. Pensar poeticamente esse “lá” pode aprofundar nosso olhar sobre o aqui.